domingo, 17 de junho de 2012



Fragmentos Freudianos.


“Aquele que tem ciência e arte, tem também religião:
o que não tem nenhuma delas, que tenha religião”. Goethe

No texto “O Futuro de uma Ilusão”, Freud diz que a religião nos é imbricado ainda quando crianças, pois nessa época a nossa percepção ainda não dá conta de separar o real da fantasia, como se fosse uma espécie de sincretismo. Quando adultos mesmo com uma capacidade maior de filtrar tais informações, ainda assim não se torna facial se livrar dessa simbiose, pois a mente humana é a única peça no mundo capaz de guardar no mesmo espaço dois objetos, sendo que numa espécie de paralaxe* se pode ver qual objeto se deseja, ou seja, dependendo do ângulo de observação se tem o pensamento desejado.  Para se entender bem essa idéia, tem-se que ater ao principio da nossa necessidade de uma religião ou de um deus. Essa necessidade parte dos primeiros homens, porém fica mais fácil se inicialmente explicada com exemplos da nossa infância. A criança ao nascer tem como ser único e protetor a mãe, pois esta lhe oferece o peito findando assim o seu desprazer. Com um pouco mais de idade, o pai se torna o legitimo representante dessa proteção, pois ele se faz como o ser mais forte na pequena sociedade conhecida pela criança, portanto há na criança essa necessidade de se agarrar a um ser que seja superior a ela e, que exerça esse papel de protetor e agente combatente do desprazer. Em relação à necessidade de religião nos primeiros homens o principio é o mesmo, pois por não entender e temer a natureza e todas as suas ações, o homem precisou humanizá-la, talhando-a de forma que a mesma tivesse a representação de um pai, de um ser superior que mesmo agindo muitas vezes com certa agressividade e de forma nada transparente sempre tem como finalidade o bem do seu filho.  Desta forma podemos entender que essa necessidade da religião não passa de uma eterna infantilização, ou seja, uma eterna minoridade.*
Num outro texto Freud diz que o ser humano teve de se abdicar de sua liberdade em troca de segurança para que assim pudesse viver em sociedade, agüentado assim as convenções sociais da grande e estúpida massa, fato que se agravou mais ainda com o capitalismo, pois passou a se viver numa espécie de estimulo resposta, algo meio técnico que ceifou boa parte dos afetos humanos em prol da concentração no aumento de capital.  Nesse momento ele explica que a Arte na vida do homem tem o papel de dar a ele, mesmo que seja por um pequeno instante uma recompensa por ter de entregar tais prazeres. Não são todos que podem ter tal agrado, pois tem que se ter certo entendimento artístico, ou uma espécie de alma privilegiada do ponto de vista cultural para se obter tal prazer, coisa que o próprio Freud explica em outro texto. 
Voltando a frase de Goethe, podemos entender que o homem que não tem essa necessidade da religião, ou seja, o homem que “cresceu” e deixou de lado a sua infantilidade, têm a Ciência e a Arte como fatores agregadores da sua vida, como formas de preencher todo o vazio da existência, como formas de viver a vida nela mesma, pois não se tem respostas pra a famosa pergunta: “Afinal qual é o sentido da vida?”.  Coisa que quem tem a religião como fuga não tem necessidade, pois a religião lhe dá todas as respostas, tanto da vida em si, quanto da vida depois da morte, fazendo-o aceitar uma vida penosa em troca de uma vida transcendente.
Chego agora num ponto preocupante. Nos dias atuais a arte ou as artes estão cada vez mais acessíveis a todas as camadas sociais, devido o encurtamento do tempo e espaço que as redes sociais nos proporcionam, afinal vivemos da era das informações. Desta maneira há de se concordar que tudo se torna muito fútil nesse novo mundo, inclusive a Arte. Então me pergunto se essa quebra de barreiras entre as artes e os amantes, ou seja, toda essa nova ponte criada tem uma boa finalidade? Tem a Arte ainda força pra concorrer com a religião em pé de igualdade quando se trata de preencher esse vazio?   Afinal as pessoas estão cada dia mais presos na roda da vida, ou seja, na roda capitalismo, tendo cada vez menos tempo pra se ater a Arte, porem isso não afeta tanto quem se apega numa religião, pois esta pessoa tem a convicção que a verdadeira vida boa está por vir, numa transcendência futura. Mas e o ateu? Como fica aquela pessoa que não pode mais ter o ócio para degustar da Arte, pois tem que fazer parte da roleta da vida, como fica essa pessoa que precisa viver a vida nela mesma, sendo que a formas de artes mais encontradas são as das massas, coisas que notoriamente são estúpidas. Como ficamos? 

*Paralaxe: Termo de Slavoj Zizek 
*Minoridade: Termo Kantiano. 

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